O Testemunho de Ana Luísa Camões sobre as Juntas Médicas em Portugal

O sistema das Juntas Médicas em Portugal continua a ser alvo de debate e controvérsia, especialmente devido às experiências relatadas por cidadãos que passaram por este processo. Hoje, damos voz a Ana Luísa Camões, uma cidadã de Cascais, que partilha a sua experiência num relato que reflete as falhas e injustiças do modelo atual.

A Experiência de Ana

Ana, que enfrentou um episódio grave de burnout em 2017, descreve a sua interação com as Juntas Médicas como profundamente desgastante e desumana. “Fui obrigada a despedir-me e fiquei 11 meses desempregada. Não estava em condições de trabalhar, mas ainda assim tive de devolver 10 dias de baixa, pois a minha incapacidade foi considerada encerrada antes do período prescrito pelo meu médico.” Este evento teve um impacto significativo na sua vida financeira e psicológica, agravando ainda mais a sua condição.

Ana relembra também as pressões que sofreu no local de trabalho. “A empresa onde trabalhava era tóxica. Levei 17 anos a perceber isso, mas a falta de apoio e compreensão, tanto da empresa como do sistema de juntas, levou-me a gastar fortunas na farmácia para lidar com os sintomas.”

As Falhas do Sistema

Para Ana, o modelo atual das Juntas Médicas está longe de ser eficaz ou humano. Ela aponta a falta de flexibilidade e empatia como problemas centrais. “A sensação que tenho é que o sistema não confia nos relatórios médicos dos profissionais de saúde que acompanham o doente. As decisões parecem basear-se mais em cumprir metas do que em avaliar verdadeiramente a situação clínica de cada pessoa.”

Outro ponto levantado é a forma desumana como os doentes são tratados durante o processo. “Sentimos que somos apenas um número. Não há preocupação em compreender as nossas dificuldades ou limitações reais.”

O Impacto na Vida Pessoal e Profissional

As consequências do sistema são devastadoras para muitas pessoas, como Ana explica. “O impacto emocional é enorme. Para além de estarmos a lutar contra uma condição de saúde debilitante, somos confrontados com processos burocráticos que só aumentam o nosso sofrimento.” No caso de Ana, a falta de apoio do sistema obrigou-a a depender do apoio familiar para conseguir recuperar. “Voltar a trabalhar como eu estava era sinónimo de nunca mais me levantar. Foi a minha família que me ajudou a reerguer-me.”

Propostas para um Sistema Mais Justo

Questionada sobre o que mudaria no modelo atual das Juntas Médicas, Ana tem propostas claras. “O sistema deve passar a confiar mais nos médicos de família, que são quem acompanha de perto a situação dos doentes. Além disso, é necessário humanizar o processo, para que os doentes sejam tratados com respeito e dignidade.”

Ana também acredita que transformar as Juntas Médicas em auditorias de saúde, com foco na avaliação global das necessidades dos doentes, poderia ser uma solução viável. “Não é só sobre cortar baixas, é sobre avaliar como podemos ajudar as pessoas a recuperar e a reintegrar-se na sociedade de forma saudável e sustentável.”

Um Apelo à Mudança

Ana conclui o seu testemunho com um apelo à mudança e à solidariedade. “Este sistema precisa de ser reformado com urgência. Não podemos continuar a tratar os doentes como se fossem culpados de algo. O foco deve estar na recuperação, não na punição. Espero que as minhas palavras inspirem outras pessoas a partilhar as suas histórias e que juntos possamos pressionar para que estas práticas desumanas sejam eliminadas.”

Com o apoio de vozes como a de Ana, é possível criar um sistema mais justo e humano, que realmente coloque as necessidades dos doentes no centro da sua missão.

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