O Corpo Já Não Aguenta, Mas a Junta Diz Que Sim: O Testemunho de 41 Anos de Descontos Ignorados
Tem 58 anos. Vive em Vila Verde, Braga. Há mais de 8 anos que está presa num ciclo kafkiano entre baixas médicas e juntas que insistem em negar o que os relatórios mostram: um corpo em sofrimento e uma mente em colapso.
A história é dura. Dói lê-la. Dói mais vivê-la. Uma mulher com fibromialgia, psoríase, hipertensão, desgaste articular severo, insónias persistentes e um quadro depressivo prolongado. Uma mulher que já não consegue manter-se mais de 45 minutos sentada ou em pé, e que mesmo assim é empurrada para o trabalho.
“Tenho relatório, estou à espera de cirurgia, e mandaram-me ir trabalhar. Se eu não aguento, como é possível?”
Desde sempre descontou para a Segurança Social. Nunca tinha pedido subsídio por doença. Quarenta e um anos de contribuições. Quarenta e um anos de confiança num sistema que agora, na hora da fragilidade, a empurra para a invisibilidade.
“Agora que preciso, há oito anos que ando nesta guerra.”
Não é uma guerra justa. Porque quem devia proteger, exige mais. Porque quem devia cuidar, duvida. Porque quem avalia, não escuta. O médico de família passa a baixa. A junta médica revoga. Como se o corpo fosse um objeto discutível. Como se a dor fosse fingimento.
Sente-se psicologicamente devastada. Revoltada. Não apenas pelas doenças que carrega, mas pela forma como é tratada. A sua proposta é clara: analisar cada caso com base nos relatórios e exames médicos. Parar com as decisões padronizadas, desligadas da realidade clínica.
“Cada caso devia ser analisado com os exames à frente. Com seriedade. Com humanidade.”
A sua história é o retrato de um sistema que quebra as pessoas precisamente quando elas mais precisam de ser seguradas. Não pede piedade. Pede justiça. E um mínimo de decência.
Este artigo integra a série “Vozes de Injustiça”, resultante dos testemunhos recolhidos pela Petição Pública por um Sistema de Avaliação Médica mais Justo e Humano. Se quiser partilhar a sua história ou apoiar esta iniciativa, visite www.etiologia.pt.
Maio 16, 2025