Pressionada na Dor, Silenciada na Junta: A Voz de Quem Só Queria Trabalhar

Tem 49 anos. Vive em Avintes. É surda bilateral, com dores fortes no corpo todo, diagnosticada com fibromialgia apenas depois de recorrer da decisão da junta médica que lhe deu alta sem sequer esperar pela consulta com a médica da dor. Tinha uma longa lista de diagnósticos já identificados: tenossinovite bicipital, tendinite nos ombros com calcificações, perturbação depressiva, sinusite crónica, dermatite de contacto, fasceíte plantar, dores incapacitantes. E ainda assim, foi mandada embora como se nada tivesse.

“Deram-me alta sem sequer eu ter sido diagnosticada pela médica da dor.”

Estava em sofrimento físico e emocional. Já não conseguia caminhar nem conduzir devido às dores. Estava a ser acompanhada. Mas isso não bastou para que o sistema esperasse, compreendesse ou confiasse. Bastou um momento para a empurrarem para fora da proteção social — mesmo sabendo que não estava em condições de trabalhar. Hoje, está em casa, com dores constantes, sem rendimentos.

“Infelizmente, não consigo trabalhar.”

O sistema, na sua lógica de suspeição, não lhe ofereceu ajuda — apenas pressão. Pressão para comparecer, pressão para justificar o que o corpo grita diariamente, pressão para fingir normalidade. Mas Isabel não consegue fingir. Porque não ouve quase nada, o que aumenta a ansiedade nas juntas. Porque tentou, durante muito tempo, aguentar-se no trabalho. Porque queria continuar. Mas não podia.

“A minha depressão foi derivada a eu querer trabalhar e o meu corpo não deixar.”

A conclusão é dura, mas clara: o sistema não está preocupado com a saúde das pessoas. Está preocupado com números. E com os cortes. Em vez de um olhar clínico e humano, há um olhar burocrático e cego. E essa cegueira institucional é, muitas vezes, mais incapacitante do que a doença.

“É desumano estarem a pressionar quem está doente.”

O testemunho de Isabel não é isolado. É mais uma prova de que a reforma das juntas médicas é inadiável. Que não basta cumprir agendamentos. É preciso ESCUTAR — mesmo quando a pessoa ouvida vive com hipoacusia. É preciso ACREDITAR — mesmo quando a dor não tem imagem visível. É preciso AGIR — para que mais ninguém seja abandonado por um sistema que deveria cuidar.


Este artigo integra a série “Vozes de Injustiça”, resultante dos testemunhos recolhidos pela Petição Pública por um Sistema de Avaliação Médica mais Justo e Humano. Se quiser partilhar a sua história ou apoiar esta iniciativa, visite www.etiologia.pt.arti

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